‘‘Um jóquei cearense na Coreia‘‘, em exibição no IMS, em São Paulo

FONTE: IPO NEWS

‘‘Um jóquei cearense na Coreia‘‘, em exibição no IMS, em São Paulo

‘‘Um jóquei cearense na Coreia‘‘, em exibição no IMS, em São Paulo

15 de Fevereiro, 2023

Dirigido por Guto Parente e Mi-kyuong Oh, o filme em cartaz no Instituto Moreira Salles mostra barreiras de cultura e dificuldade do esporte

Uma boa oportunidade de fugir do circuito mais comercial do cinema nacional e do "hollywoodiano" é reservar um dia para assistir "Um Jóquei Cearense na Coreia".

O filme, em exibição na capital paulista até o dia 26 de fevereiro, mostra os reflexos da distância, do deslocamento, e as particularidades de uma profissão "trotamundos". É o jóquei, personagem basilar do turfe - esporte que já teve seus dias de glória no Brasil e hoje luta pela sobrevivência.

O documentário acompanha a trajetória de Antonio Davielson, um cearense que foi parar em Seul, na Coreia do Sul, onde o turfe é popular como o futebol em um continente onde Hong Kong é líder mundial de apostas e Tóquio, outra potência das corridas de cavalo.

As curiosidades na carreira do jovem piloto são muitas, a começar que não registros de que tenha passado por grandes hipódromos nacionais, como Cidade Jardim (SP) ou Gávea (RJ), antes de se aventurar no exterior.
A capital coreana é o lugar em que Davielson, jovem pobre nascido e criado na periferia de Fortaleza, se tornou famoso depois de ganhar 82 corridas em um ano e a eleição por voto popular de melhor jóquei do país, em 2018.

Esse é o lado bom da história. Da fama e do dinheiro. Davielson mora na capital com a mulher, a sulista Kelly, e a filha Luísa, com bom padrão de vida. Mas isso não é tudo na vida. Como mostra o diretor Guto Parente, de "O Clube dos Canibais", que vai nos apresentar algumas particularidades nem sempre tão felizes da profissão do jovem nordestino.

Primeiro, viver em Seul mal falando inglês e desconhecendo por completo o coreano - ao menos nos primeiro tempos - o que limita muito a vida social do casal e da filha. O filme mostra que Davielson vai com a mulher curtir um karaokê ou a um passeio para ver a neve, troca duas ou três palavras com outro jóquei, treinador ou com um proprietário de cavalos. O convívio social se resume a não mais do que isso.

O cotidiano de Davielson é de um atleta profissional, com exercícios físicos e treinos diários com os animais, os "matinais", na gíria turfística. O problema maior é a luta contra o aumento de peso. A balança é o pesadelo para quase todo jóquei. O que significa correr com agasalho, fazer sauna, se privar de alimentos -há dias em que sua alimentação consiste em um copo d‘água e uma salada.

Um conforto para o jóquei é que essa rotina não é só dele, mas de jóqueis de todo o mundo. Pode ser o campeão europeu Franco Dettori ou o recordista mundial de vitórias, o também brasileiro Jorge Ricardo, a realidade é entreamada por vitórias sob aplausos de um hipódromo cheio ou o "day after", em que o craque festejado da véspera se dá ao luxo de comer uma maça, se tanto...

Outra abordagem bem retratada no filme é a incerteza de até quando Davildson vai durar na profissão, e a necessidade de fazer um "pé-de-meia" para quando tiver que parar. Existem jóqueis que vão até 45 ou 50 anos de idade. Outros param com 30 ou 35, em geral vencidos pela balança.

E depois? Melhor não pensar muito nisso, como reflete o filme. Já basta o perigo das corridas propriamente ditas. Os riscos iminentes de quedas e machucaduras. Quando um jóquei deixa de ser o melhor e começa a decair? Impossível prever.

Mas há bons exemplos na história do turfe e que servem para animar o piloto cearense: Jorge Ricardo está com 61 anos e segue montando, num ritmo menor mas com a mesma perseverança. O uruguaio Irineo Leguisamo, que construiu carreira e fama na Argentina montando para seu amigo Carlos Gardel, seguiu no comando das rédeas até os 62 anos, no final dos anos de 1970.